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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A forte chuva


Já passava das 14h, ainda assim, havia várias pessoas no restaurante. Bete e Carla estavam almoçando quando ouviram um grande barulho de chuva. Minutos depois, as duas pediram a conta, mas ficaram impossibilitadas de sair do estabelecimento. A chuva caía forte demais.
Enquanto aguardavam, as amigas observavam o movimento da rua. Não muitos carros passavam, muito menos pedestres. No entanto, perceberam dois homens negros andando de um lado a outro da rua. Um deles vestia uma bermuda jeans surrada, uma camiseta simples de malha branca e chinelos, e o outro uma calça jeans também surrada, uma camiseta de malha escura e tênis.
Bete e Carla viram aqueles homens e logo ficaram apreensivas. “Devem ser assaltantes”, uma delas pensou.
A chuva, a cada minuto, aumentava mais, e o barulho que a água fazia na telha da casa ao lado impedia as pessoas de conversarem mais confortavelmente. O céu estava escuro, apesar de o ponteiro que marca as horas do relógio não ter ainda chegado ao número 15.
De repente, aqueles homens pararam de passar pela frente do lugar e, com a metade do corpo molhada, entraram pela primeira porta do estabelecimento, que separava o pátio da calçada da rua. Bete, Carla e alguns clientes que aguardavam o temporal passar, ficaram aparentemente receosos. Os homens andavam devagar e demonstravam que queriam entrar, mas ficaram lá fora.
Um deles olhava para dentro, esticava o pescoço, movia a cabeça para o lado, cochichava alguma coisa com o outro... Duas mulheres muito bem vestidas, que conversavam próximo à porta de vidro, pararam de falar e olharam cismadas para eles. Elas deram dois passos para trás e ali ficaram, mantendo distância daqueles “invasores”.
Já a chuva não dava trégua. Por essa razão ou não, um dos homens saiu correndo para a rua. No interior do restaurante, os clientes observavam atentos o possível próximo passo que os homens dariam.
– Será que são assaltantes?
– O que será que eles querem?
Bete e Carla se perguntavam preocupadas.

Como o homem não saía dali, o proprietário veio lhe falar. Abriu a porta e, somente com a cabeça do lado de fora, perguntou alguma coisa a ele. Não dava para ouvir a conversa, mas, segundos depois fechou a porta. E o homem de bermuda permaneceu do lado de fora, encostado à parede.
A preocupação só fez aumentar. “Seria um engano? O que será que este homem está armando?” Alguns clientes se entreolhavam em um grande clima de suspense.
Bastaram apenas poucos minutos, e o homem ficou completamente molhado. Apoiado à parede, uma das mãos na cintura, olhava longe, com a cabeça reclinada levemente para baixo. E a camisa branca, encharcada, mostrava explicitamente as costelas de um corpo muito magro. Ele não olhava para ninguém, tampouco erguia os olhos em direção ao salão, onde os clientes esperavam.
Momentos depois, um funcionário aparece carregando duas marmitas e entrega a ele. O homem agradece. É a primeira vez que as pessoas podem ver um breve sorriso em seu rosto.
Ele pega o alimento e sai correndo debaixo daquela forte chuva, capaz de molhar qualquer roupa, mas que não consegue lavar o preconceito.
Para refletir
Como lidamos com os nossos preconceitos? O que pensamos ao ver alguém mal vestido ou maltratado? Temos julgado as pessoas pela aparência? Deus nos dá uma lição muito grande, quando diz que o homem olha para o exterior, mas Ele, para o interior.
O nosso coração é enganoso. Ele nos faz cometer injustiças e pensar o mal do nosso semelhante.
Reflita sobre o seu interior e veja se tem sido justo consigo mesmo e com aquele a quem você, talvez, julgue inferior.

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